sábado, 22 de abril de 2017

6º Encontro - A Integração de Crianças Indianas na Escola Portuguesa: quem são e como aprendem


SPGL - 20/4/2017
A oradora convidada, Maria Helena das Neves Barreto, nasceu em Goa, Índia, e é professora do 1º ciclo no Agrupamento de Escolas de Outorela. Professora associada no Movimento da Escola Moderna tem realizado comunicações em território nacional e elaborado projetos visando o acompanhamento e capacitação de alunos com perturbações na aprendizagem. A sua tese de mestrado, com especialização em Análise e Intervenção em Educação, versou sobre o tema “Integração de Crianças Indianas na Escola Portuguesa: quem são e como aprendem”.
As crianças indianas inseridas no sistema de ensino português são alunos de escolas públicas, provenientes de uma comunidade de cerca 60 mil indianos concentrados em Lisboa e Porto, na sua maioria, mas também se encontram no Algarve, Leiria, Coimbra e Guarda (deste grupo existem 7 mil que possuem passaporte indiano).
A oradora informou os presentes de alguns aspetos culturais, nomeadamente da Índia ser um vasto território com uma existência de 4 mil anos, com uma população de cerca 1 bilião e 311 milhões (2015), divididos por 3 etnias. As línguas oficiais são cerca de 25, além de muitos outros dialetos. A sua religião é politeísta com predominância do hinduísmo.
Perante tal diversidade não de estranhar que no sistema escolar oficial indiano haja uma variedade linguística de cerca de 67 línguas faladas nas escolas.
Ao chegarem a Portugal as crianças indianas não dominam o português com proficiência; a sua alimentação é diferente e podem não celebrar as nossas festividades por viverem num contexto cultural, religioso e familiar dissemelhante. Apesar das diferenças culturais nestes alunos não se verificam comportamentos disruptivos nas nossas escolas. Helena Barreto demonstrou, pela sua investigação, que o acompanhamento parental e a perspetiva da família face à escola são fundamentais para o sucesso das crianças. É incutido na criança que o respeito devido a um professor é igual ao devido a um pai ou a uma mãe.
Na sua análise sobre a integração destas crianças no nosso sistema de ensino, ressaltou alguma preocupação por alguns professores considerarem as crianças indianas pouco comunicativas, com fraco domínio da língua portuguesa e consequentemente com fraco rendimento escolar, pelo que sentem fracas expectativas em relação ao futuro destes alunos.
Realça alguns desafios do professor do 1º ciclo perante as crianças indianas: como se ensina e quais os meios prioritários a que um professor deve recorrer quando uma criança não sabe português.
Relembrando o Artigo 26º da Constituição Portuguesa sobre o direito à educação, Helena Barreto equaciona a problemática do multiculturalismo, recorrendo a um co-fundador do Movimento da Escola Moderna e um dos maiores pedagogos, Sérgio Niza:
só uma pedagogia diferenciada centrada na cooperação poderá vir a concretizar os princípios da inclusão, da integração e da participação. Tais princípios devem orientar o trânsito de uma escola de exclusão para uma escola de inclusão que garanta o direito de acesso e a igualdade de condições para o sucesso de todos os alunos numa escola para todos.
Como conclusão, e perante os desafios culturais, Helena Barreto propõe aos docentes uma base de reflexão, baseada em três pilares: “Escutar/Conhecer/Agir”.
Recomenda as seguintes vias de atuação: Diferenciação pedagógica; Encontrar meios que nos permitam adaptar o currículo à criança; Envolvimento da Escola de todos os agentes educativos, Compreender a rede do sistema escolar; Conhecer a Lei de Bases do Sistema Educativo, nomeadamente sobre o multiculturalismo; Não criar estereótipos em relação aos alunos; Agir e apostar na educação multicultural desde cedo; Apostar na formação de professores; Abordar esta questão no Plano Curricular da Escola com o envolvimento de todos os professores.
Ao longo desta apresentação alguns dos assistentes colocaram questões e teceram reflexões muito pertinentes, dando à sessão uma riqueza de ideias e de análises.
Foi igualmente facultado aos presentes uma brochura, de autoria de Lígia Calapez, jornalista do SPGL, sobre o Grupo Escola Intercultural e o historial das suas atividades já realizadas.

Sílvia Baptista