SPGL -
20/4/2017
A oradora convidada,
Maria Helena das Neves Barreto, nasceu em Goa, Índia, e é
professora do 1º ciclo no Agrupamento de Escolas de Outorela.
Professora associada no Movimento da Escola Moderna tem realizado
comunicações em território nacional e elaborado projetos visando o
acompanhamento e capacitação de alunos com perturbações na
aprendizagem. A sua tese de mestrado, com especialização em Análise
e Intervenção em Educação, versou sobre o tema “Integração de
Crianças Indianas na Escola Portuguesa: quem são e como aprendem”.
As crianças indianas
inseridas no sistema de ensino português são alunos de escolas
públicas, provenientes de uma comunidade de cerca 60 mil indianos
concentrados em Lisboa e Porto, na sua maioria, mas também se
encontram no Algarve, Leiria, Coimbra e Guarda (deste grupo existem 7
mil que possuem passaporte indiano).
A oradora informou os
presentes de alguns aspetos culturais, nomeadamente da Índia ser um
vasto território com uma existência de 4 mil anos, com uma
população de cerca 1 bilião e 311 milhões (2015), divididos por 3
etnias. As línguas oficiais são cerca de 25, além de muitos outros
dialetos. A sua religião é politeísta com predominância do
hinduísmo.
Perante tal
diversidade não de estranhar que no sistema escolar oficial indiano
haja uma variedade linguística de cerca de 67 línguas faladas nas
escolas.
Ao chegarem a Portugal
as crianças indianas não dominam o português com proficiência; a
sua alimentação é diferente e podem não celebrar as nossas
festividades por viverem num contexto cultural, religioso e familiar
dissemelhante. Apesar das diferenças culturais nestes alunos não se
verificam comportamentos disruptivos nas nossas escolas. Helena
Barreto demonstrou, pela sua investigação, que o acompanhamento
parental e a perspetiva da família face à escola são fundamentais
para o sucesso das crianças. É incutido na criança que o respeito
devido a um professor é igual ao devido a um pai ou a uma mãe.
Na sua análise sobre
a integração destas crianças no nosso sistema de ensino, ressaltou
alguma preocupação por alguns professores considerarem as crianças
indianas pouco comunicativas, com fraco domínio da língua
portuguesa e consequentemente com fraco rendimento escolar, pelo que
sentem fracas expectativas em relação ao futuro destes alunos.
Realça alguns
desafios do professor do 1º ciclo perante as crianças indianas:
como se ensina e quais os meios prioritários a que um professor deve
recorrer quando uma criança não sabe português.
Relembrando
o Artigo 26º da Constituição Portuguesa sobre o direito à
educação, Helena Barreto equaciona a problemática do
multiculturalismo, recorrendo a um co-fundador do Movimento da Escola
Moderna e um dos maiores pedagogos, Sérgio Niza:
…só uma
pedagogia diferenciada centrada na cooperação poderá vir a
concretizar os princípios da inclusão, da integração e da
participação. Tais princípios devem orientar o trânsito de uma
escola de exclusão para uma escola de inclusão que garanta o
direito de acesso e a igualdade de condições para o sucesso de
todos os alunos numa escola para todos.
Como conclusão, e
perante os desafios culturais, Helena Barreto propõe aos docentes
uma base de reflexão, baseada em três pilares:
“Escutar/Conhecer/Agir”.
Recomenda as seguintes
vias de atuação: Diferenciação
pedagógica; Encontrar meios que nos permitam adaptar o currículo à
criança; Envolvimento da Escola de todos os agentes educativos,
Compreender a rede do sistema escolar; Conhecer a Lei de Bases do
Sistema Educativo, nomeadamente sobre o multiculturalismo; Não criar
estereótipos em relação aos alunos; Agir e apostar na educação
multicultural desde cedo; Apostar na formação de professores;
Abordar esta questão no Plano Curricular da Escola com o
envolvimento de todos os professores.
Ao longo desta
apresentação alguns dos assistentes colocaram questões e teceram
reflexões muito pertinentes, dando à sessão uma riqueza de ideias
e de análises.
Foi igualmente
facultado aos presentes uma brochura, de autoria de Lígia Calapez,
jornalista do SPGL, sobre o Grupo Escola Intercultural e o historial
das suas atividades já realizadas.
Sílvia Baptista