O
Grupo Escola Intercultural, promovido pelo SPGL, organizou no passado
dia 8 de junho uma sessão sobre crianças ciganas inseridas no
sistema educativo português, com Luísa Lobão Moniz.
Luísa
Lobão Moniz tem um vasto currículo. Curso do Magistério Primário,
licenciatura em Educação na área de Animação Sociocultural,
mestrado em Relações Interculturais, doutoramento no ramo de
Educação, na especialidade Educação/ Interculturalidade. Foi
diretora e coordenadora de uma escola do 1ºciclo. Trabalhou os
Direitos da Criança na Comissão de Protecção de Menores da Zona
Oriental de Lisboa. Foi responsável pelo projeto Entreculturas e
Coordenadora do projeto TEIP no Agrupamento de Escolas Damião de
Góis. Membro do Conselho Pedagógico do Centro de Formação António
Sérgio. Responsável pela elaboração, candidatura e concretização
do projeto do Programa Escolhas para o Bairro do Armador em Chelas,
Lisboa. Destacada no IAC/ SOS Criança, responsável pelo projeto
“Bom dia, SOS Criança”. Foi ainda coordenadora do projeto “Ir
à Escola”, para alunos de etnia
cigana.
“Os
meninos ciganos são vítimas de uma representação que as pessoas
têm”, afirmou a oradora a iniciar a sua apresentação.
Depois
da passagem de um curto vídeo pondo em causa comportamentos e
preconceitos, Luísa Lobão Moniz falou sobre representações.
“As representações
sobre as pessoas começaram a ser estudadas porque as maiorias tinham
uma maneira de se comportarem com as minorias”, esclareceu.
1895
é a data em que se começou a pensar em representações e em 1898
“Durkheim começou a falar de representações sociais”.
“São os conceitos
que temos de organizações e pessoas que fazem o nosso comportamento
perante elas”, elucidou Luísa Lobão Moniz, avançando que a
representação contempla 3 aspetos ou conteúdos: a informação, a
atitude e o campo de representação.
“As
Representações Sociais não são imutáveis”, considerou, dando
como exemplo que “a escola transmissiva foi dando lugar à escola
construtiva e, pode-se, então, intuir que as representações de
escola também foram mudando nos seus atores, nomeadamente nos
alunos”.
Há
também qual a representação que tenho de mim, afirmou. “Como sou
perante estes preconceitos, eu aceito o que os outros dizem ou eu
tento desmontá-los”. “O preconceito surge pela diferença”,
mas “se todos formos eu e um bocadinho do outro é muito mais fácil
nós vivermos como nós e não como eu e o outro”, avaliou.
“A
partir do momento em que está feita uma representação nós vamos
criar situações que digam que a representação está certa”,
concluiu.
Luísa
Lobão Moniz deu também a conhecer os símbolos ciganos. Como o
pentagrama que simboliza o Homem Integral ou a roda ou a chave que
simboliza as soluções ou a ferradura que simboliza energia e sorte.
A
finalizar a oradora apresentou um trabalho, um grande livro, feito
nos anos 90, com um mediador cigano formado pela antiga Direcção do
Ensino Básico do Ministério da Educação, que teve formação para
ir para as escolas trabalhar com as famílias ciganas e com as
famílias não ciganas. “Foi pedido aos meninos para que pensassem:
o que é ser cigano”, introduziu. “E temos aqui alguns meninos
que dizem… Cigano é como os outros. Eu gosto de ser cigano. Os
ciganos gostam de cartas. Os casamentos são bonitos porque não são
na rua. Têm ciganos bonitos. Quando for crescida quero usar roupas
brilhantes. Quando morre uma pessoa cigana usa luto”. O livro tem
também a opinião dos meninos não ciganos. “Ser cigano: uma raça
diferente da nossa, 9 anos. Viver com mais necessidades, 9 anos.
Viver em alegria, 10 anos. Ser negociante, 9 anos. Gostar de dançar,
12 anos. Andar de terra em terra, 9 anos”. E uma parte dedicada às
diferenças e semelhanças. “O rapaz faz a barba e o cigano deixou
crescer. O cigano está vestido de luto e o senhor não. Com esta
idade o cigano usa chapéu. Todas as noivas vão muito bonitas para o
casamento. Não conhecemos ciganas locutoras. As ciganas não usam
fato de banho na praia, mas as outras senhoras usam. As ciganas não
usam roupas transparentes”.
No
debate falou-se das poucas referências nos manuais escolares à
cultura cigana, do único livro de histórias sobre ciganos, do Pedro
Sousa Tavares, e da estratégia nacional para a integração das
comunidades ciganas, lançada em 2013 e que está disponível online.
Sofia Vilarigues
Publicado na Escola Informação de junho/julho de 2018