sábado, 27 de maio de 2017

7º Encontro - Como Lidar com a Diversidade. Que Caminhos Possíveis?


SPGL -25/5/2017
Jorge Cardoso, licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, com Pós-graduação em Desenvolvimento Social e Económico em África pela mesma Universidade.
Atualmente, integra a equipa da área de Cidadania Global e Desenvolvimento da ONGD Fundação Gonçalo da Silveira, onde tem participado na implementação de diversos projetos na área da Educação para o Desenvolvimento / Educação para a Cidadania Global. Antes foi coordenador da rede nacional de Centros Locais de Apoio à Integração de Imigrantes (CLAII) e técnico no Gabinete de Apoio Técnico às Associações de Imigrantes, ambos no, então, Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI). Integrou a equipa de investigação do projeto “Migrações Forçadas e Formatos de Intervenção Humanitária”, do Centro de Estudos Africanos do ISCTE-IUL, e foi voluntário durante dois anos em Moçambique, lecionando e trabalhando em projetos de Desenvolvimento.

O primeiro contacto com a Educação Intercultural surgiu no âmbito da Bolsa de Formadores do ACIME (agora ACM), em 2006, projeto que integrou desde o seu início e do qual continua atualmente a fazer parte.

A Educação para a Cidadania Global (ECG) é um processo educativo que contribui para a formação de cidadãos e cidadãs responsáveis e comprometidos, pois baseia-se na coerência entre valores e propostas, objetivos e estratégias, discurso e prática. Visa a construção de sociedades mais justas, equitativas, solidárias e democráticas, num planeta sustentável.” in http://www.rede-ecg.pt/a/

Como forma de provocar a reflexão, foram colocados aos presentes algumas questões.

A diversidade é uma questão social?
É uma questão de não entendimento?
É uma questão política?
É resultante do conflito das relações de poder?
É uma influência do atual processo de globalização?
Qual o valor real da diversidade?

Vários caminhos são possíveis de serem trilhados se pretendemos ultrapassar a esfera individual (empatia/tolerância/acolhimento) para a esfera do coletivo (reflexão crítica/consciencialização da injustiça/reconhecimento da opressão/ação transformadora).
Jorge Cardoso referiu que esta atitude de questionamento constante e de contestação não produzem resultados imediatos, pois estas questões ligadas à coesão social e transformação social fazem parte de um processo complexo.

Existe uma visão simplista nalgumas práticas da diversidade quando se realiza uma comparação entre a cultura dos que acolhem perante a cultura, a ideologia, ou a religião do outro que é diferente. Resulta muitas vezes numa tendência de discurso moralista e, muitas das vezes paternalista, pois só se centra na esfera da cultura visível. Daí resultar a criação de estereótipos que se tornam difíceis de combater. O que parece é e fica como verdade absoluta e muitas das vezes passam a ser enunciados como ditos populares.

"A diversidade é a importância fundamental da consciência histórica e das próprias histórias/narrativas que se contam e vivem"
Reconhecer a existência de uma outra cultura, tão profunda como a nossa, mas diversa, deverá ser uma prática assente numa construção interna de reflexão. Jorge Cardoso sugere que se abandone o "Deve ser" ou "Eu/nós desejamos e queremos que seja (ou não seja". E concluiu: "Todos temos o direito ao dissenso, à diversidade de opiniões, visões e opções."

Esse processo de questionamento reflexivo poderá trazer modificações profundas, tais como, alargar o universo de pessoas e instituições; aprofundar o entendimento do outro e compreender o seu posicionamento; aprofundar as práticas para melhorar o processo de construção interna; questionar sempre as lógicas surgidas pela observação factual de atitudes opostas ou dissemelhantes; trabalhar, em termos de processos humanos, as questões relacionadas com a emancipação da mulher, a liberdade da vida, a promoção da paz e a defesa dos direitos humanos que deverão ser inaliáveis para todos os seres humanos do nosso planeta.

Trabalhar para interculturalidade é essencialmente um trabalho de terraplanagem, mencionou Jorge Cardoso. Uma terraplanagem de culturas por ser um trabalho assente na relação com os outros, de culturas diferentes ou da mesma cultura que a nossa.

A sessão terminou com a participação de alguns dos presentes que colocaram questões ou deram o seu contributo para enriquecer as ideias ligadas a esta temática.

Jorge Cardoso sugeriu o visionamento da palestra dada pela escritora nigeriana, Chimamanda Adichie, "O Perigo da História Única". Esta escritora de contos e novelas nigerianas adverte nesta palestra:
"Se ouvirmos uma única história sobre uma outra pessoa ou sobre um país cairemos num mal-entendido."

Sílvia Baptista

sábado, 22 de abril de 2017

6º Encontro - A Integração de Crianças Indianas na Escola Portuguesa: quem são e como aprendem


SPGL - 20/4/2017
A oradora convidada, Maria Helena das Neves Barreto, nasceu em Goa, Índia, e é professora do 1º ciclo no Agrupamento de Escolas de Outorela. Professora associada no Movimento da Escola Moderna tem realizado comunicações em território nacional e elaborado projetos visando o acompanhamento e capacitação de alunos com perturbações na aprendizagem. A sua tese de mestrado, com especialização em Análise e Intervenção em Educação, versou sobre o tema “Integração de Crianças Indianas na Escola Portuguesa: quem são e como aprendem”.
As crianças indianas inseridas no sistema de ensino português são alunos de escolas públicas, provenientes de uma comunidade de cerca 60 mil indianos concentrados em Lisboa e Porto, na sua maioria, mas também se encontram no Algarve, Leiria, Coimbra e Guarda (deste grupo existem 7 mil que possuem passaporte indiano).
A oradora informou os presentes de alguns aspetos culturais, nomeadamente da Índia ser um vasto território com uma existência de 4 mil anos, com uma população de cerca 1 bilião e 311 milhões (2015), divididos por 3 etnias. As línguas oficiais são cerca de 25, além de muitos outros dialetos. A sua religião é politeísta com predominância do hinduísmo.
Perante tal diversidade não de estranhar que no sistema escolar oficial indiano haja uma variedade linguística de cerca de 67 línguas faladas nas escolas.
Ao chegarem a Portugal as crianças indianas não dominam o português com proficiência; a sua alimentação é diferente e podem não celebrar as nossas festividades por viverem num contexto cultural, religioso e familiar dissemelhante. Apesar das diferenças culturais nestes alunos não se verificam comportamentos disruptivos nas nossas escolas. Helena Barreto demonstrou, pela sua investigação, que o acompanhamento parental e a perspetiva da família face à escola são fundamentais para o sucesso das crianças. É incutido na criança que o respeito devido a um professor é igual ao devido a um pai ou a uma mãe.
Na sua análise sobre a integração destas crianças no nosso sistema de ensino, ressaltou alguma preocupação por alguns professores considerarem as crianças indianas pouco comunicativas, com fraco domínio da língua portuguesa e consequentemente com fraco rendimento escolar, pelo que sentem fracas expectativas em relação ao futuro destes alunos.
Realça alguns desafios do professor do 1º ciclo perante as crianças indianas: como se ensina e quais os meios prioritários a que um professor deve recorrer quando uma criança não sabe português.
Relembrando o Artigo 26º da Constituição Portuguesa sobre o direito à educação, Helena Barreto equaciona a problemática do multiculturalismo, recorrendo a um co-fundador do Movimento da Escola Moderna e um dos maiores pedagogos, Sérgio Niza:
só uma pedagogia diferenciada centrada na cooperação poderá vir a concretizar os princípios da inclusão, da integração e da participação. Tais princípios devem orientar o trânsito de uma escola de exclusão para uma escola de inclusão que garanta o direito de acesso e a igualdade de condições para o sucesso de todos os alunos numa escola para todos.
Como conclusão, e perante os desafios culturais, Helena Barreto propõe aos docentes uma base de reflexão, baseada em três pilares: “Escutar/Conhecer/Agir”.
Recomenda as seguintes vias de atuação: Diferenciação pedagógica; Encontrar meios que nos permitam adaptar o currículo à criança; Envolvimento da Escola de todos os agentes educativos, Compreender a rede do sistema escolar; Conhecer a Lei de Bases do Sistema Educativo, nomeadamente sobre o multiculturalismo; Não criar estereótipos em relação aos alunos; Agir e apostar na educação multicultural desde cedo; Apostar na formação de professores; Abordar esta questão no Plano Curricular da Escola com o envolvimento de todos os professores.
Ao longo desta apresentação alguns dos assistentes colocaram questões e teceram reflexões muito pertinentes, dando à sessão uma riqueza de ideias e de análises.
Foi igualmente facultado aos presentes uma brochura, de autoria de Lígia Calapez, jornalista do SPGL, sobre o Grupo Escola Intercultural e o historial das suas atividades já realizadas.

Sílvia Baptista

quarta-feira, 8 de março de 2017

Projeto Sabura - uma visita por uma realidade bem diferente da estigmatizada


Apreciar aquilo que é bom”, é o significado, em crioulo, de Sabura, o projeto do Moinho da Juventude, Cova da Moura, que se propõe mostrar que “a realidade é bem diferente da estigmatizada pela comunicação social que confunde acontecimentos pontuais e fraturantes com um quotidiano e vivências normais”.
Foi isso mesmo que vivenciaram as três dezenas de professores que, dia 4 de março, participaram numa visita organizada pelo Grupo Escola Intercultural, do SPGL. Uma deambulação – em visita guiada – pelas ruas deste bairro auto-construído, que foi surgindo com o 25 de abril, e que se afirmou através de um processo de fortes e quotidianas interações sociais (o “Djunta Mo” - i.e. o juntar das mãos).
Aí houve oportunidade de contato – superficial embora – com as realidades do bairro. De um pequeno bar de encontro-convívio (onde a música e a dança são presença “de rotina”, dando espaço a toda a gente) e onde até aconteceram cantigas de improviso, ao almoço de cachupa (que é de aconselhar!).
Dois momentos altos – muito diversos. Um espetáculo – inesquecível – do grupo de batuque Finka-Pé, com que encerrou a visita. O encontro, no Moinho da Juventude, com peritos de experiência do bairro (conceito que abarca quem “adquiriu a sua autoridade na base da sua experiência e não na base da aquisição sistemática de conhecimentos”) e Godelieve Meersschaert, que todos conhecem por Lieve, e que está na raiz da criação do Moinho da Juventude. Momento em que houve oportunidade de conhecer um pouco da história do bairro, das lutas que percorreram e enformaram essa história, mantendo, em vários casos, toda a sua atualidade. E, ainda, dos princípios que norteiam toda a atividade da associação – as Traves Mestras: Interculturalidade; Comunicação; Gender; Respeitar as Convicções; Cooperação; Empowerment; Meio Ambiente; Criatividade; Persistência; Qualidade; Eficiência e Eficácia; Ser Solidário.
Lígia Calapez

terça-feira, 7 de março de 2017

Mouraria dos Povos e das Culturas


Cerca de 30 professores participaram, dia 5 de novembro, numa iniciativa promovida pelo Grupo Escola Intercultural - uma visita guiada à Mouraria (num circuito sobre os povos e culturas que a moldaram e/ou aí habitam).
Esta a segunda iniciativa do Grupo, este ano letivo. A primeira ocorreu a 16 de abril – A Arte contra a discriminação – visita guiada às galerias de arte pública na Quinta do Mocho e na Quinta da Fonte.
Atividades que irão prosseguir. Para saber mais sobre a visita de 5 de novembro:
https://www.youtube.com/watch?v=fhKS9kR3djI

segunda-feira, 6 de março de 2017

A Arte contra a discriminação


Visitas guiadas às galerias de arte urbana da Quinta do Mocho e da Quinta da Fonte, breves encontros - no spot do Mocho, onde está sediado o projeto Escolhas, e no espaço do Ibisco – e um lauto almoço de convívio. Esta uma possível e concisa síntese do que foi a visita promovida pelo Grupo Escola Intercultural, do SPGL, dia 16 de abril, a estes bairros.
Mas para o pequeno grupo que participou nesta visita – e esperemos que também para os jovens do bairro que nos acompanharam – terá sido mais do que isto. Para alguns talvez a primeira oportunidade que tiveram de entrar em espaços da cidade que, na verdade, continuam a ser guetos. E entrar, não apenas para ver arte – o que é, sem dúvida, muito importante – mas também para perceber, sentindo, que os guetos mais não são que segmentações – que importa erradicar – do mesmo tecido social, de que todos somos parte.
Não houve, naturalmente, lugar para a perceção dos muitos problemas que permeiam a realidade da Quinta do Mocho e da Quinta da Fonte. Tão pouco houve oportunidade para conhecer a riqueza das dimensões culturais e sociais das comunidades que visitámos. Mas terão ficado registadas em cada um de nós as imagens dos graffiti que cobrem 50 fachadas, só na Quinta do Mocho, explicados, um a um, pelos nossos guias, que foram realçando significados, conteúdos, técnicas. E, sobretudo, o empenhamento, a dimensão humana, dos que – seja no projeto Esperança, seja no teatro Ibisco (num diálogo em que estiveram também jovens atores), seja nas múltiplas outras iniciativas e projetos que não tivemos ensejo de conhecer – participam desse trabalho quotidiano de criação de um paradigma positivo, uma verdadeira alternativa de vida. Metodologia afirmada pelo teatro Ibisco, mas que impregnará, sem dúvida, todo o trabalho sociocultural aqui desenvolvido.
Uma visita que todos ganharíamos em repetir. Com mais gente. E ampliando, também, os contatos e o conhecimento da realidade destes bairros.
Lígia Calapez

domingo, 5 de março de 2017

2016 – 2017. Retomando um projeto com pernas para andar


A Arte contra a discriminação - Visita guiada às galerias de arte pública na Quinta do Mocho e na Quinta da Fonte (16/4/2016).

Mouraria dos Povos e das Culturas - Visita guiada à Mouraria (5/11/2016).

Projeto Sabura – Visita guiada ao Bairro Cova da Moura (4/3/2017)