SPGL -25/5/2017
Jorge Cardoso,
licenciado em Organização
e Gestão de Empresas pelo ISCTE - Instituto Universitário de
Lisboa, com Pós-graduação em Desenvolvimento Social e Económico
em África pela mesma Universidade.
Atualmente, integra a
equipa da área de Cidadania Global e Desenvolvimento da ONGD
Fundação Gonçalo da Silveira, onde tem participado na
implementação de diversos projetos na área da Educação para o
Desenvolvimento / Educação para a Cidadania Global. Antes foi
coordenador da rede nacional de Centros Locais de Apoio à Integração
de Imigrantes (CLAII) e técnico no Gabinete de Apoio Técnico às
Associações de Imigrantes, ambos no, então, Alto Comissariado para
a Imigração e Diálogo Intercultural (ACIDI). Integrou a equipa de
investigação do projeto “Migrações Forçadas e Formatos de
Intervenção Humanitária”, do Centro de Estudos Africanos do
ISCTE-IUL, e foi voluntário durante dois anos em Moçambique,
lecionando e trabalhando em projetos de Desenvolvimento.
O primeiro contacto
com a Educação Intercultural surgiu no âmbito da Bolsa de
Formadores do ACIME (agora ACM), em 2006, projeto que integrou desde
o seu início e do qual continua atualmente a fazer parte.
“A Educação para a
Cidadania Global (ECG) é um processo educativo que contribui para a
formação de cidadãos e cidadãs responsáveis e comprometidos,
pois baseia-se na coerência entre valores e propostas, objetivos e
estratégias, discurso e prática. Visa a construção de sociedades
mais justas, equitativas, solidárias e democráticas, num planeta
sustentável.” in http://www.rede-ecg.pt/a/
Como forma de provocar
a reflexão, foram colocados aos presentes algumas questões.
A diversidade é uma
questão social?
É uma questão de não
entendimento?
É uma questão
política?
É resultante do
conflito das relações de poder?
É uma influência do
atual processo de globalização?
Qual o valor real da
diversidade?
Vários caminhos são
possíveis de serem trilhados se pretendemos ultrapassar a esfera
individual (empatia/tolerância/acolhimento) para a esfera do
coletivo (reflexão crítica/consciencialização da
injustiça/reconhecimento da opressão/ação transformadora).
Jorge Cardoso referiu
que esta atitude de questionamento constante e de contestação não
produzem resultados imediatos, pois estas questões ligadas à coesão
social e transformação social fazem parte de um processo complexo.
Existe uma visão
simplista nalgumas práticas da diversidade quando se realiza uma
comparação entre a cultura dos que acolhem perante a cultura, a
ideologia, ou
a religião do outro
que é diferente. Resulta muitas vezes numa tendência de discurso
moralista e, muitas das vezes paternalista, pois só se centra na
esfera da cultura visível. Daí resultar a criação de estereótipos
que se tornam difíceis de combater. O que parece é e fica como
verdade absoluta e muitas das vezes passam a ser enunciados como
ditos populares.
"A diversidade é
a importância fundamental da consciência histórica e das próprias
histórias/narrativas que se contam e vivem"
Reconhecer a
existência de uma outra cultura, tão profunda como a nossa, mas
diversa, deverá ser uma prática assente numa construção interna
de reflexão. Jorge Cardoso sugere que se abandone o "Deve ser"
ou "Eu/nós desejamos e queremos que seja (ou não seja". E
concluiu: "Todos temos o direito ao dissenso, à diversidade de
opiniões, visões e opções."
Esse processo de
questionamento reflexivo poderá trazer modificações profundas,
tais como, alargar o universo de pessoas e instituições; aprofundar
o entendimento do outro e compreender o seu posicionamento;
aprofundar as práticas para melhorar o processo de construção
interna; questionar sempre as lógicas surgidas pela observação
factual de atitudes opostas ou dissemelhantes; trabalhar, em termos
de processos humanos, as questões relacionadas com a emancipação
da mulher, a liberdade da vida, a promoção da paz e a defesa dos
direitos humanos que deverão ser inaliáveis para todos os seres
humanos do nosso planeta.
Trabalhar para
interculturalidade é essencialmente um trabalho de terraplanagem,
mencionou Jorge Cardoso. Uma terraplanagem de culturas por ser um
trabalho assente na relação com os outros, de culturas diferentes
ou da mesma cultura que a nossa.
A sessão terminou com
a participação de alguns dos presentes que colocaram questões ou
deram o seu contributo para enriquecer as ideias ligadas a esta
temática.
Jorge Cardoso sugeriu
o visionamento da palestra dada pela escritora nigeriana, Chimamanda
Adichie, "O Perigo da História Única". Esta escritora de
contos e novelas nigerianas adverte nesta palestra:
"Se ouvirmos uma
única história sobre uma outra pessoa ou sobre um país cairemos
num mal-entendido."
Sílvia Baptista